Vivemos
em uma sociedade cada vez mais visual, imagem e palavra mantêm uma relação integrada.
O conceito de letramento se dá pela
interação das pessoas na sociedade de acordo com sua necessidade de comunicação.
Atualmente, uma pessoa letrada não se limita apenas em desenvolver habilidades
de leitura e escrita, mas deve ser alguém capaz de atribuir sentidos a
mensagens de múltiplas fontes de linguagem, bem como ser capaz de produzir
novas mensagens, incorporando essas diversas formas de
linguagem. O letramento visual está relacionado
com a organização social das comunidades e com a organização dos gêneros
textuais; um texto pode conter uma junção de gêneros, como por exemplo, um
texto publicitário pode exibir palavras, imagens e até mesmo sons, dependendo
do meio no qual circula, é a orquestração de gêneros de comunicação que
surpreendem o leitor, com a intenção de convencê-lo de algo, agradando-o ou
não.
As
práticas de letramento estão ligadas indissoluvelmente à cultura e ao poder que
a sociedade tem, de reconhecer a variedade de práticas culturais associadas à
leitura em diferentes contextos. Não podemos deixar de reconhecer o óbvio, o
avanço da tecnologia e dos meios de comunicação estão presentes no ambiente
escolar, uma conversa pelo chat do Facebook ou pelo Whatsapp, por exemplo,
também são formas de letramento tanto quanto uma reportagem, um documentário,
um teatro, todos são formas de interação social por meio das quais os
indivíduos se comunicam. Essas mudanças fazem ver a escola de hoje como um
universo onde convivem letramentos múltiplos e muito diferenciados, cotidianos
e institucionais.
Diferentemente
do conceito de letramento, que aponta
para a multiplicidade e variedade de práticas letradas, o conceito de multiletramento aponta para dois tipos
importantes de multiplicidade presentes em nossas sociedades, principalmente
urbanas, na contemporaneidade: a multiplicidade cultural das populações e a
multiplicidade semiótica (práticas de linguagem) de constituição dos textos por
meio dos quais o indivíduo se informa e se comunica. Os textos compostos de
muitas linguagens (semioses) exigem capacidades e práticas de compreensão e
produção de cada uma delas para ter significado, é o que chamamos de multiletramentos, que se caracterizam
por serem interativos e colaborativos, fraturam e transgridem relações, sendo
híbridos, fronteiriços e mestiços.
Para
podermos inserir os multiletramentos no meio escolar, precisamos pensar um
pouco em como as novas tecnologias da informação podem transformar os hábitos
institucionais e passarem a ensinar e aprender, em vez de proibirmos o celular
em sala de aula, podemos usá-lo como instrumento de pesquisa, comunicação,
navegação, como ferramenta para pequenas filmagens, gravações ou fotografias. Conforme Lemke (1994) há dois paradigmas de aprendizagem e
educação em disputa em nossa sociedade, e as novas tecnologias irão, acredito,
mudar o equilíbrio entre eles significativamente. O primeiro, denomina-se
“paradigma de aprendizagem curricular: aquele que assume que alguém decidirá o
que você precisa saber e planejará para que você aprenda tudo em uma ordem fixa
e um cronograma fixo”. O segundo, é o “paradigma da aprendizagem interativa”.
Queremos
formar pessoas que sejam um pouco críticas e céticas quanto à mera recepção de informações. É preciso que tenhamos
uma aprendizagem interativa, o ouvinte deixa de ser apenas um receptor de
informações, deixa de ter uma compreensão
passiva, e passa a ter uma compreensão
responsiva ativa, nesse momento o receptor torna-se locutor expondo seu
ponto de vista, seus prós e contras sobre determinado fato.
Temos
a partir disso um trabalho que a escola pode tomar para si, que é discutir as “éticas”
ou costumes locais, construir uma ética plural e democrática, desenvolvendo o letramento crítico em sala de aula. Resumidamente,
trata-se de formar um usuário multifuncional que tivesse capacidade técnica de ”saber
fazer” para “saber-ser”. Os alunos transformam-se
em criadores de sentido, que sabem interpretar diferentes gêneros textuais
dentro de um único texto, e ao mesmo tempo têm a capacidade de produzir novos
textos a partir desse processo dialógico.
Maritana Corazza
Aluna de Pós Graduação em Língua Portuguesa: Novos
Horizontes Teóricos e Práticos - UPF