outubro 08, 2014

A intencionalidade presente no texto




Quando estamos diante de um texto, seja ele um artigo, uma história, uma receita, uma carta, uma imagem ou outras tipologias de gêneros textuais, estamos dispostos a compreender o que o autor/produtor criou e diante disso ter uma atitude responsiva ativa, em que o leitor concorda ou discorda (total ou parcialmente), completa, adapta, apronta-se para executar, talvez, um novo texto. Os estudos da Análise Textual nos apresentam cinco fatores que contribuem para o entendimento do texto, são chamados Fatores Pragmáticos, que são: situacionalidade, informatividade, intertextualidade, intencionalidade e aceitabilidade. Um dos fatores que mais gosto de estudar e analisar em textos os quais me deparo é a intencionalidade, normalmente questionada em salas de aula depois de leituras, a intencionalidade pode ser uma armadilha tanto para professores quanto para os alunos.
Nossas crenças, pensamentos, anseios e desejos estão sempre acerca de alguma coisa. A intencionalidade é um fenômeno mental que é dirigido para um objeto, seja ele real ou imaginário, consiste na compreensão e a relação entre um estado mental, uma expressão, e as coisas das quais esse estado mental se constitui. Quando o produtor constrói um texto, traça-o com determinada intencionalidade para alcançar um objetivo. Cada receptor interpreta-o de forma com que achar mais coerente, o que depende muito do ponto de vista pessoal. A obra “Redação e Intertextualidade” de Maria da Graça Costa Val, nos remete a seguinte reflexão: “ A intencionalidade concerne ao empenho do produtor em construir um discurso coerente, coeso e capaz de satisfazer os objetivos que tem em mente numa determinada situação comunicativa. A meta pode ser informar, ou impressionar, ou alarmar, ou convencer, ou pedir, ou ofender, etc., (VAL, Maria da Graça Costa, 1999, p.10)
Quando apresentamos um texto aos alunos em sala de aula, estamos disponibilizando a eles a oportunidade de formar sua própria opinião baseado em seu conhecimento de mundo. A discussão do tema é importantíssima, levar textos atuais ou até mesmo históricos para o conhecimento dos alunos é válido, sendo que, se faça uma contextualização do mesmo, como por exemplo, época em que foi escrito, por quem foi criado e onde foi publicado. Então, diante desses dados ‘tentar’ compreender a intencionalidade do produtor, mas, jamais se chegará a uma conclusão exata, nunca sabemos o que o outro no momento da produção textual, tentou nos dizer. Portanto, perguntas como “Qual a intencionalidade do autor do texto?”, O que o autor quis dizer?” podem ser substituídas por, “Em sua opinião, qual a ideia central do texto?”, “Você concorda com os apontamentos do autor? Por quê?”. São perguntas que ativarão o conhecimento do aluno fazendo-o reproduzir novas ideias, novos textos através de textos antigos. Assim como o aprendiz ativa seu senso crítico, questionando, concordando ou discordando das palavras do autor.

outubro 01, 2014

As constantes mudanças da Língua Portuguesa



Você já deve ter se deparado inúmeras vezes com a dúvida de como escrever algumas palavras depois do surgimento do novo acordo ortográfico, aquele que aboliu o uso do trema em todas as palavras, e que fez com que palavras usuais como ‘ideia, joia, estreia’ perdessem o acento agudo. ‘Voo, enjoo, veem e leem’ também perderam o acento circunflexo, essas são algumas mudanças que ocorreram na gramática. Esse ‘novo acordo’ não é tão novo assim, ele foi proposto em 1990, quando assinado em Lisboa (Portugal) e só aprovado em 1995, entrando em vigor no Brasil dia 1(primeiro) de janeiro de 2009. O prazo determinado para que os brasileiros absorvessem todas as mudanças foi até 2013, mas esse foi estendido pelo governo brasileiro até 2016 devido a grande dificuldade de adaptação, até esta data a utilização das novas regras continua sendo opcional.
O acordo busca a unificação do idioma na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, formada por Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Mas, parece que um novo acordo pode surgir em breve, esse de uma maneira mais polêmica, é uma proposta da Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado que, pretende eliminar a letra ‘h’ do início das palavras como ‘homem, história, hora’, passando a serem escritas ‘omem, istória, ora’; sugere também que palavras como ‘queijo, aquilo, quero’ omitam a letra ‘u’ e passem a ser escritas ‘qeijo, aqilo, qero’. A palavra ‘casa’ deixa de ser escrita com ‘s’ e será  escrita com ‘z’, ‘caza’, pois a sonoridade da palavra condiz com a letra ‘z’. A alteração mais revoltante é nas palavras escritas com ‘ss’ como, ‘amassar, massa, passado’, que perdem um ‘s’ e passam a ser ‘amasar, masa, pasado’.
A questão é que fica difícil aceitar uma alteração que tire a identidade das palavras que conhecemos e usamos diariamente. Se o uso do hífen, do acento agudo e do trema ainda é um problema, pensemos em um dia ter que escrever ‘qeijo’ e ‘omem’. Mas se ainda não ficou claro o acordo ortográfico de 2009, para que propor um novo acordo que suprime as letras após um acordo feito tão recentemente? Se a ideia é adequar o idioma às dificuldades encontradas pelos professores de ensinar a Língua Portuguesa, seria uma boa alternativa simplificar a gramática? Acredito que isso agravaria ainda mais o problema, pois demonstraria um não domínio do próprio idioma. Se o Senado investisse em recursos educativos, como o incentivo à leitura ou programas de qualificação profissional para professores, não seria preciso realizar reformas constantes e desnecessárias.

Maritana Corazza
Graduada em Letras (UPF) e aluna do Curso de Especialização em Língua Portuguesa: Novos Horizontes Teóricos e Práticos da Universidade de Passo Fundo.